A Velha Casa
Uma Velha Casa esquecida por todos, mas lembrada pelo tempo. Sua madeira, que antes foi branca e já esverdeada pelos musgos, está destruída. Seus vidros, que já passaram por inúmeras tempestades, nos revelam todos interpéries que já passaram Lá; também destruídos. Seu telhado, que já não protege mais ninguém, agora é protegido pelos passarinhos que fizeram seus ninhos ao redor; destruído. As gramíneas verdes que avançam pela varanda dominam seus antigos termos, e o ordenado jardim já tornou-se caos. Ambos destruídos. Ao redor, uma floresta meio densa protege a moradia da realidade, isto é: das memórias; pois nos esquecemos dela. Tudo dentro foi-se embora: os móveis, as pessoas, as cores, os palcos e as estruturas. Como um pintor sem pincel, assim ficou a Casa. Desconstruída. Então o que ficou? Histórias. As Histórias ficam; as pessoas podem até não as guardar nem as valorizar, entretanto as paredes rabiscadas por crianças nunca as esqueçeram, é tudo o que têm. As velhas soleiras desenhadas com mundos mágicos não esquecem, é tudo o que têm. Contudo também existe uma caixa. Tudo foi levado; mas àquela pequena caixa de papelão foi dado um tratamento especial; fora deixada para apodrecer sozinha. O que tem nela? Fotos? Livros? Ou quem sabe vários Cd's e fitas cacetes? Nunca saberemos, a desprezamos. Levados pela soberba dos prédios, dos “clicks” e flashes abandonamos a sua simplicidade. Corremos para alcançar aquilo que já tínhamos em nossas mãos. Mas a caixa ainda está lá, observando quem a buscará, ela espera e espera, mas tudo o que encontra é a grama crescendo; não deveriamos a buscar? Voltar àquela velha casa, onde as memórias não se perdem por novas pinturas e metas, onde há ainda uma caixa feia, sem formosura nenhuma para que a queiramos. Terá alguém coragem para largar as ruas asfaltadas e aventurar-se na escura trevamata e ver o que há dentro dela? Voltar àquele pequeno jardim que havia na frente da casa? Enquanto construímos e construímos ela continua lá, esperando alguém valente o bastante para não ser atual.