O peregrino da alvorada.
Em meio aos raios, relâmpagos e trovões, se encontrava a pequena embarcação Fé. Sua pobre e antiga madeira rangia enquanto torrões de água entravam pelas frestas do navio. De um lado, marinheiros corriam pelo convés, noutro o capitão gritava no reme e em algum canto qualquer passageiros choravam em desespero. Todos ocupados e apressados para salvar suas próprias vidas. Contudo, entre eles havia uma criança: um jovenzinho que, diferente de todos, sabia contemplar. As altas ondas e os altos sons não o deixavam com medo, mas perplexo, isto é: foi maravilhado; seus olhos, quase que como uma resposta, brilhavam quando viam aqueles impetuosos relâmpagos. “Enlouqueceu o menino…” diziam seus pais ao tampar os ouvidos e olhos. Até porque quem não vê nem ouve, não pode ser fascinado pelo mar. Mas ele já não se importava mais com o que pensavam, afinal estava vendo a recompensa do extremo-oeste: Aslam e Seu país. Na realidade, o menino havia descoberto a maior das verdades: a tempestade nunca é obstáculo, mas sempre a entrada.
Passadas as tempestades e as ondas; todos voltaram as suas vidas pacatas e normais, o jovem, que tornou-se Explorador, entretanto, permaneceu naquele momento. “Um vislumbre”, dizia, “me consumiu”. Assim, não conseguia viver para mais nada além de vê-lo novamente. "Estragado fostes...", foi o que seus pais disseram quando estava fazendo suas malas. “Menino! Que desperdício, sua vida vale mais que isso, menino!”, afirmavam quando ia se aproximando do porto para sua viagem-sem-volta - pois Fé só consegue ir, e nunca voltar-. E na medida que subia na Fé, subia também os deboches: “Aslam? Pais de Aslam? Menino! Perdoe minha ignorância, mas o que seriam esses novos contos de fadas?”. Mas Explorador já havia sido cativado. E pessoas cativadas não mudam de ideia. Pelo contrário, pessoas cativadas vivem por elas; e Explorador sabia disto; sabia que havia sido estragado naquele dia. E sem mais delongas, mesmo em meio as vaias, zarpou novamente, nunca mais sendo visto.