Torre de Cartas

Nesses dias de deserto não consigo ser mar. Tudo que posso é mergulhar dentro de mim para além da tempestade e do arco-íris. Tudo que posso é cultivar o riso solto. Máscara perfeita. Barragem. Para esse rio caudaloso que meus olhos deseja atravessar. Para além das paredes de silêncio. Do porão sombrio. Serei céu. Cor de rosa. Outono. Pôr do sol. E nos ciclos do tempo tudo estará envolto em calma aparente. Tudo em ordem quase perfeitinha. Adormecidos em mim, porém, ainda existem a menina na torre. O medo por trás da cortina. O ladrão que espreita a noite. Basta uma palavra, uma frase. Dardo certeiro no centro do alvo. Do coração. Tudo desmorona na minha fortaleza de vidro. Sob a lente de outras verdades o sentido se esvai. E lá estou eu, encolhida num cantinho. Cacto. Sem oásis. O deserto a atravessar. Dias de sol intenso não apagarão as nuvens de chuva que se precipitam. O caos há de tirar todas as certezas do lugar. O porão sombrio, o lugar mais quentinho. Dona de mim. Dos meus baixos, altos e tudo bem. Sigo em frente sempre. E mesmo acolhendo minhas fragilidades sei que sou mais forte do que penso, e, quem sabe ainda serei bem mais feliz do que imagino.

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 13/09/2023
Código do texto: T7884649
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