Divino e indecifrável
Cresceu lento e devagar, e cresceu, e cresceu, para então brotar. Quem vê de fora pensa que eu estou doente. E sei lá, vai ver esteja. Não saberia dizer entre uma coisa e outra nem que me desenhassem.
Como eu posso agora explicar pra mim que te gosto com cada centímetro meu? Com meus pés e mãos, dos ossos até os pelos da nuca. Como eu explico pra mim que sempre que me visto, queria estar vestindo-te? Como explico pra mim que a força de meu corpo que nunca tive em erguê-lo, é agora levitação?
Essa ideia me veio primeiro tão estranha, tão boba, mas tão logo chegou foi se acostumando a pele, se colando ao rosto. Abraçando. Daí então passei a acreditar que de todas as coisas invisíveis que existem ou ainda vão, se o amor não for divino, nada mais é.
Divino e indecifrável.
E assim que eu descobri, assim que soube, meu mundo foi outro que não o meu e foi um pouco seu. As minhas fronteiras sumiram, até que país nenhum houvesse. Eu acho que eu nunca me desconheci tanto na vida. Nunca me soube tão pouco. Chega até a assustar, mas de todo o eu que nunca mergulhei profundo, você é a que mais temo.
Não se combate aquilo que não entende.
Não se luta contra o que se quer.
Pior, pior é quando cresce a medida que dói, e que se gosta, e vira um equilíbrio sem fim de tropeços. Os erros vão, se acumulam, mas não importa, não adianta.
Quando nos abandonamos até o outro, pisamos numa terra sonho, somos engolidos pela sombra alheia. E esse escuro é o que faz humano o amor.
Mas não importa, não adianta.
De algum jeito
tudo parece certo.