Nosso amor é coisa de para sempre. Que se fechem portas, que se percam chaves, sei que nos esbarraremos sempre em qualquer esquina.
O seu último cigarro ainda se equilibra em cinzas no cinzeiro do quarto. Nas minhas noites solitárias ainda vejo seu perfil recortado na luz da janela, e sua boca desenhando círculos de fumaça – as nuvens da nossa solidão a dois no teto do meu quarto.
Ainda ouço você abrindo a porta, a sua voz gritando meu nome, o seu espreguiçar, ainda é latente em mim a lembrança daquele sentimento de querer fazê-lo feliz.
Eu sei, nosso amor é coisa de para sempre. Como um disco gravado, guardado, onde posso sempre clicar no replay.
Como um algodão doce que se come com vontade e a cada mordida, na nuvem colorida, o doce do prazer. O lambuzar-se do açúcar melado na boca, lamber com a língua e rir sem motivo.
Ainda lembro seu modo de beijar minhas palavras e fazê-las santas como água benta de igreja, por mais sacanas que elas fossem.
O procurar das mãos no escuro, rematando todas as beiras, até que ficassem uma só, experimentando em segundos o pânico da perda.
O sentimento de unidade – nossos pés a se beijarem na beirada da cama, enquanto líamos cada um nosso livro preferido.
Eu sei, nosso amor é coisa de para sempre.
Mesmo que às vezes ele pareça um simples antônimo. E quando sua voz galopa no som do meu silêncio, transforma minha vida em pura metáfora.