Animal desnorteado (híbrido)

Os momentos já se fazem tão remotos

Rememoro quando diuturnamente

Preensiei as tuas marcas entreabertas;

Os teus choros sensatos

Derramados pelo rosto afora

sobresaiam das dores que teu espírito não suportava;

Impacientes, estampavam uma amargura indiscreta,

imersa nos apelos do seu mundo particular...

Eu que há vários momentos

presenciava o teu rosto sofrido

e que à sombra dos tormentos

fui simples e indiferente "amigo"

Eu que senti a tua presença sorrindo

e miseravelmente ausente não a amparei

não enxuguei as fortes e pavorosas solidões

que explodiam junto a tua existência...

Eu que no entanto fui simplório;

Um tolo "amigo" cuja presença era ignorada,

porém disseram que fui um marco.

Um arquivo vivo na tua memória;

Agora já não sei.

Eu que havia acostumado com a ideia de estar sempre liberto

das paixões que inutilmente nos acorrentavam, de repente encontrei-me a tona das vertigens, febres e confetes de um jogo ardiloso, de uma angústia pensativa e conselhos traiçoeiros...

Eu que um dia quis tê-la por instantes,

e que também sempre fui o eterno sabedor, porquanto as poucas forças, jamais conseguiriam cotidianamente prende-la...

O desejo adormece e nunca fenece,

e mesmo assim busquei no longínquo abismo, numa distância quase eterna, fadado a não chegar, distância indizível;

Procurando sem resposta o enigma da amarga missão...

Encontrei no fim do túnel um coleguismo

que certamente fortalece e maltrata

as sobras da minha aventura equivocada...

Do sobrevivente temor que sentimos

alojamos inconsciente a eterna dúvida

de uma curiosidade sempre remanescida...

Eu que estive alheio a uma outra vontade.

Testemunho somente pelo discreto horizonte e um híbrido ser caminhando pela tarde, fui contrariado por mera despretensão, mas nem por isso condenei nenhuma ação sua, tampouco nenhum sentimento ou atitude envolvida...

Estou entre a mísera tentativa de dar

consolo ao meu corpo satisfazendo um outro ser, ou simplesmente sentir-me apenas o homem e não o poeta;

Agora já não sei.

Henry Moody
Enviado por Henry Moody em 10/09/2023
Reeditado em 10/09/2023
Código do texto: T7882658
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