Animal desnorteado (híbrido)
Os momentos já se fazem tão remotos
Rememoro quando diuturnamente
Preensiei as tuas marcas entreabertas;
Os teus choros sensatos
Derramados pelo rosto afora
sobresaiam das dores que teu espírito não suportava;
Impacientes, estampavam uma amargura indiscreta,
imersa nos apelos do seu mundo particular...
Eu que há vários momentos
presenciava o teu rosto sofrido
e que à sombra dos tormentos
fui simples e indiferente "amigo"
Eu que senti a tua presença sorrindo
e miseravelmente ausente não a amparei
não enxuguei as fortes e pavorosas solidões
que explodiam junto a tua existência...
Eu que no entanto fui simplório;
Um tolo "amigo" cuja presença era ignorada,
porém disseram que fui um marco.
Um arquivo vivo na tua memória;
Agora já não sei.
Eu que havia acostumado com a ideia de estar sempre liberto
das paixões que inutilmente nos acorrentavam, de repente encontrei-me a tona das vertigens, febres e confetes de um jogo ardiloso, de uma angústia pensativa e conselhos traiçoeiros...
Eu que um dia quis tê-la por instantes,
e que também sempre fui o eterno sabedor, porquanto as poucas forças, jamais conseguiriam cotidianamente prende-la...
O desejo adormece e nunca fenece,
e mesmo assim busquei no longínquo abismo, numa distância quase eterna, fadado a não chegar, distância indizível;
Procurando sem resposta o enigma da amarga missão...
Encontrei no fim do túnel um coleguismo
que certamente fortalece e maltrata
as sobras da minha aventura equivocada...
Do sobrevivente temor que sentimos
alojamos inconsciente a eterna dúvida
de uma curiosidade sempre remanescida...
Eu que estive alheio a uma outra vontade.
Testemunho somente pelo discreto horizonte e um híbrido ser caminhando pela tarde, fui contrariado por mera despretensão, mas nem por isso condenei nenhuma ação sua, tampouco nenhum sentimento ou atitude envolvida...
Estou entre a mísera tentativa de dar
consolo ao meu corpo satisfazendo um outro ser, ou simplesmente sentir-me apenas o homem e não o poeta;
Agora já não sei.