FILOSOFANDO (FINAL)
O tempo que passou é como fragmentos de um tecido que se esgarçou. O tecido esgarçado não se recupera, não volta a ser novo. Mas há outros tecidos novos, com os quais posso confeccionar outras roupas. Há um tempo novo, com que posso confeccionar outros acontecimentos, outros fatos, que me marcarão igualmente. Há um tempo novo, sempre renovado, esse, agora, que já me escapa.
Não posso reter o tempo, ele escorre como a água que tento prender nas mãos. Não posso reter o tempo, tampouco posso adiantá-lo, nem um minuto sequer. Não posso viver na expectativa de um momento futuro, por mais maravilhoso que ele prometa ser. Não posso vivê-lo antes, pois não sei se ele ocorrerá. Não sei se ocorrerá do jeito que imaginei que seria. Mas ele ocorrerá, certamente, pois o tempo é inexaurível. O tempo é eterno. Ele é feito de momentos eternos.
O agora é o tempo em toda a sua eternidade. E é só o que tenho. O eterno agora. O momento presente é a partícula do eterno. Devo viver essa eternidade presente. Deixá-la fluir, incessante, indelével, imperecível.
Eu não posso amparar-me no que foi, e já não é mais. Preciso de algo mais sólido: a solidez do presente. O passado não me ampara, ele é fugidio, escorregadio; quando o chamo, não me ouve; quando o procuro, não está lá. Preciso do momento presente, que caminhe com meus passos, que esteja no carregar as sacolas do supermercado, no desejar uma boa-noite de sono.
A ilusão do que passou me paralisa, e preciso caminhar. Preciso acompanhar o ritmo do tempo, o ritmo imperturbável do fluir da vida, incessante, em sua eterna mudança. Não quero me solidificar. Quero manter a fluidez, quero me liquefazer e, rio vivente, descer a corredeira para o grande mar.