FILOSOFANDO (3)

Mas o que é o tempo? Fala-se que o passado não importa porque não é mais, e que o futuro não importa porque ainda não é, e não se sabe se um dia será. Sobra o presente. Mas o que é o presente senão a continuação do passado e a gestação do futuro? Mas, se é assim, então o presente não existe? Filósofos dizem que o tempo é intermitente. Será? Ou ele é um só fio, ininterrupto, como a água que desce o rio? Pode-se dizer que a gota d’água da nascente é mais importante que a gota da foz? Um dia, a gota da nascente será uma gota da foz. E, um dia, evaporará, e cairá como chuva, e retornará à nascente, no interminável ciclo da água. Mas, e a vida do tempo? Será também cíclica, ou será reta, sem princípio nem fim?

Minha vida teve começo e terá fim. Sou, então, um ponto nessa reta do tempo. O ponto é algo indefinível na matemática, assim como a reta e o plano. Mas o plano é uma infinidade de retas e a reta é uma infinidade de pontos. E o ponto? Apenas é. O ponto é o elemento primordial, a menor partícula da reta. Seu átomo. Então sou átomo do tempo. E, se sou tempo, sou também infinita. Sou, ao mesmo tempo, efêmera como o raio na escuridão, mas sou também infinita, pois sou átomo do tempo, que é infinito.

Assim, soltando as rédeas do pensamento, chego a um paradoxo: sou uma porção infinita. Vivo num eterno momento presente. Já não sei o que pensar. Qual será a síntese desses dois extremos?

(CONTINUA)