FILOSOFANDO (1)

 

               Os desertos e os oceanos me instigam e atraem. Quereria entrar na vastidão do deserto, misturar-me às suas areias, tornar-me una com ele; conviver com suas formas de vida, com os escorpiões. Ouvi dizer que os escorpiões se suicidam quando se sentem ameaçados. Será verdade? Se eu fosse um escorpião me suicidaria diariamente. Porque aqui as ameaças são constantes, perturbadoras. O sangue me voa nas veias, o coração galopa, delirante, a sensação do perigo próximo e real é constante. Sim, eu me suicidaria todos os dias. E renasceria, metamorfoseada, no dia seguinte.

 

No deserto, quereria sentir o silêncio e o barulho do vento e das tempestades de areia. Que são como minhas tempestades internas: vêm sem aviso e sem motivo, e se vão, deixando um vazio maior do que o anterior. Se os desertos crescessem, como os seres vivos, um dia  eles engoliriam os oceanos. A esterilidade seria total e profunda, como os abismos. Às vezes me imagino saltando sobre o abismo, ou dentro dele? Pouco importa, pois esse abismo não tem fim. Vou mergulhando cada vez mais fundo e percebo regiões completamente estranhas, e me identifico com elas. Sou estranha como as profundidades abissais. Não tenho medo. Só a paz. A paz dos abismos e das profundezas do mar. A paz intrigante dos abismos.

 

(CONTINUA)