Múltipla
Não gosto de rótulos. Não fui feita pra caber em caixinhas. Me encanta a pluralidade de ser muitas sendo única. Me perguntam se eu sou escritora. Respondo logo, claro que não! O escritor faz da palavra ofício. Eu uso as palavras fortuitamente para expressar o que sinto. Faço da escrita minha companheira de todas as horas. Se sou poeta, ou poetisa, sei lá! A poesia é o que faz brilhar meus olhos, me traz doçura ao olhar, me permite enxergar o mundo com mais generosidade. Sou daquelas que trilhou seus caminhos meio fora da curva. E ainda assim se encolheu demais pra tentar se enquadrar. Seguiu um roteiro padrão em busca de aceitação. Fez loucuras para se sentir amada. Liberdade veio quando me reconheci inteira fora da historinha perfeita que me contaram. Quando entendi que não existem príncipes, nem sapos. Autenticidade é uma escolha difícil. Dolorosa. Exige desapego. Até mesmo dos próprios conceitos sobre si mesmo. O grande barato é sentir que nada te estigmatiza. Você pode ser tudo o que quiser. Sempre me reconheci diante de algumas certezas. Quando a vida me levou além eu descobri um outro universo. Ainda sinto alguma nostalgia, é verdade. Mas, essa mágica de se desconhecer para se reencontrar é linda demais. Respeitar ciclos, fechar portas, abrir janelas, construir possibilidades… Não! Não quero rótulos. Quero ser tudo isso. Plural. Única. E algo mais que eu não faço a menor ideia...
*Si*