Folhas em branco
Sinto a inspiração se diluindo feito bolha de sabão lançada ao vento. Sem despedida, me vira as costas, caminha altiva para longe do alcance dos meus olhos. Sinto gelar o coração. A saudade já está aqui. Atravessar um novo deserto será inevitável. Foram dias de intenso idílio. As palavras fluíam com leveza. O corpo sentia arrepios. Desejo saciado. Folhas coloridas por uma nova criação. Agora tenho que contemplar esse vazio. As ruas escuras. O silêncio profundo. Aceitar o momento de ausências. Nada mais me resta. A inspiração é bicho selvagem. Se decide partir tudo que posso é fazer mais poesia. Crua. Insípida. Cortes no tempo. Entalhes na alma. Deixar nascer essas criaturas estranhas. É pura teimosia. Apego. Não querer aceitar a partida. Um amor desmedido pela escrita. Ansiar frases, versos, estar plena. Repleta da matéria prima que compõe a essência. Nada mais. Sem inspiração não há razão de ser. Não há porque existir. É chegado o tempo de guardar as folhas ainda em branco. Silenciar.
*Si*