Quando não penso em poetizar

Não desrespeito tratados de versificações, apenas não os sacralizo. Minha religião é a imaginação poética. Tolo é o escritor sob o jugo das regras. A poesia hodierna carece de nobres sacerdotes verdadeiros. Os tratados são de importância ínfima, apesar de haver tantas inutilidades por aí. Sou o melhor poeta deste mundo, porque aprendi a não poetizar. Com as mãos cerradas e a boca idem, não me submeto a anarquia do mundo decadente. As diretrizes da minha mente socorrem versos livres e alexandrinos ao mesmo tempo. Sou tudo, nada e meios: afecção perene.

Quando não penso em poetizar, vivencio a história humana.

Ressalto como sempre que, a poesia per se, é vivenciar em palavras memórias de intuições belas. Somos nostalgias ambulantes, quem dera se existisse a precisão unívoca da ação e da palavra poética. Os haicaianos, apesar de tatearem levemente a imensidão da lógica escriba, foram excelentes sensitivos, perceberam o vazio da palavra ao serem exauridas da mente; é evidente quando termino de escrever o meu fracasso vem imperar. Independentemente da qualidade textual, vejo como axioma inexorável o fato da escritura ser uma farsa. Diria que a poesia é uma brincadeira pueril de adultos socialmente aceita.

Simplesmente não é possível compartilhar a subjetividade, cada um possui aos seus moldes a sua visão de mundo. O jasmineiro tem um aroma artístico para mim, mas pode ser completamente nauseante para outro. Ora, se a arte não é uma tentativa inútil de expressar o inexprimível, há um deus maligno nos enganando. Nada me surpreenderia mais que tudo o que a sociedade venerou como belo seja carinhos de barbados burgueses de um para com o outro. Uma massagem erótica sobre a maciez nojenta do ego.