A Sinfonia Silenciosa
O eremita e sua caverna vivem em sincronia. Ele não fala e ela não ouve. Um elo peculiar, moldado pela natureza e pelo tempo, onde as palavras se perdem e o silêncio se torna o som mais presente.
Nas montanhas ele vagueia, um solitário entre a majestade das alturas. À medida que seus pés tocam o solo, a natureza responde generosamente, ofertando alimento e água para sustentar sua existência. Ele se tornou um fragmento do ambiente que o cerca, um elemento integrado às paisagens que visita.
O eremita carrega consigo um passado fragmentado, memórias escorrendo feito água entre os dedos. A razão que o levou até ali já se perdeu no tempo, deixando apenas o presente como morada. O passado se tornou uma brisa distante, e o futuro, um eco inaudível. Lembra-se, entretanto, que o sol costumava ser mais dourado e de florestas mais vivas, fragmentos de uma época que agora repousa nas sombras.
Entre pedras, galhos, ossos e vestígios do passado, ele caminha. Algumas construções, que um dia abrigaram outros como ele, permanecem como testemunhas silenciosas do tempo. Mas sua morada é uma caverna, simples e serena, onde conforto cede lugar à conexão com a terra, uma escolha que ele não trocaria.
Há momentos em que a solidão aperta, e ele procura outros sussurros sem voz como o seu, ou qualquer resquício de vida, mas a resposta é sempre o silêncio.
Às vezes, ele começa a falar ao vento, deixando as palavras fluírem como folhas carregadas pelo vento. Mesmo sem lembrar o significado dos sons que saem de sua boca, suas palavras encontram eco nas montanhas, nas águas e nas estrelas, criando uma melodia silenciosa que preenche o vazio.
O dia cede à noite, e no topo da montanha ele retorna. A sua caverna lhe espera. Uma fogueira é acesa, sua chama dançante reflete nos olhos serenos do eremita. A noite cai e o silêncio o embala, um abraço tranquilo no escuro.