ENQUANTO ISSO...
Enquanto as chacinas acontecem
Nos morros, nos becos, nas escolas, nas esquinas...
Matando Corpos indefesos,
Corpos pretos, Corpos gays, Corpos originários,
De Gentes, Indigentes, Mendigos
De Homens, de Mulheres, de Meninas
Desfolha-se a flor do bem me quer...
E eu sonho com o amor
Sonhado por uma mulher...
O olhar galante de um artista,
De alguém que me pegue na pista,
Que me valorize bem, ou me banque com o que tem,
Ou fique comigo em tudo o que vier...
Enquanto meus irmãos sofrem calados,
Emudecidos pelo sistema
Eu sonho com o amor enamorado
Do romantismo cego, tolo e alienado
Eu pego a pena do poeta... E diante da cena,
Penso no drama, no conforto de minha escrivaninha
No aconchego de minha cama.
E sinto, por um instante, um nó na garganta
Um sangue nos olhos, a ausência de palavras...
Sarcasticamente, penso na vida como ela é...
“Não há o que fazer!
A flor já foi desfolhada,
O amor já esfriou nos corações humanos...
Eu viro a folha... Mudo de página...
Esqueço as bocas amordaçadas,
Os gestos não vistos,
As vidas prostituídas, anuladas, ignoradas
As cenas violentas e cruas do cotidiano,
Perfeitamente Naturalizadas.
Enquanto se brinca com a verdade e se inventa novas versões,
Novos enredos para aquilo que é falácia
Eu me pinto de “negrácia” e faço graça e finjo não perceber
Que sou mulher-objeto ...
Que seu olhar indiscreto me come, sem poder
E me invade, sem ao menos eu querer.
Enquanto isso, ... Essa poesia escrita com a alma, sangra
Um pouco de fel, um tanto de mel,
Morrendo e pulsando, ferindo e escaldando, em nome do amor...
Sinto-a na carne diariamente descarnada
Pelos que se acham meus donos
E podem fazer de minha vida o que bem entender...
Ignorando que ela é minha
E deve ser Vida pra mim, não simplesmente como ela é,
Pois como "ela é", não fui eu quem escrevi.
Mas como deverá ser,
Sob a minha óptica, sob o meu poder
Um roteiro reinventado com todas as letras por mim
Do início ao fim...
By Nina Costa, in 26/08/2023
Mimoso do Sul, Espírito Santo, Brasil.