Palhaço sem circo

Sou um palhaço sem camarim

E sem circo, numa vida que é um faz de conta de tudo.

E são os espectadores que me pintam assim.

Olhando do picadeiro fica fácil

Dizer que meu sorriso é resplandecente

E definem minha vida como dócil.

Por detrás da fantasia colorida

Que meu lastimável público insiste em me vestir

Fica imperceptível a estampa em preto e branco da minha lida.

Os refletores que me apontam,

Ascendem um personagem à platéia subjugante

Que só assistem, mas que jamais se denotam!

Ecoam pra fora da lona invisível suas fingidas risadas,

Vindas dessas soturnas entranhas tão lúgubres,

Onde mantêm as próprias dores enjauladas.

Ainda sim sirvo de espetáculo pra essa gente

Que batem suas palmas a cada ato do meu repertório

E se esquecem que aqui há um coração plangente.

Senhoras e senhores, não se esqueçam jamais:

Que todos nós somos personagens circenses e que muitas vezes

Da boca pra fora proferimos risadas, pra dentro amargamos nossos ais.

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 21/12/2007
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