Palhaço sem circo
Sou um palhaço sem camarim
E sem circo, numa vida que é um faz de conta de tudo.
E são os espectadores que me pintam assim.
Olhando do picadeiro fica fácil
Dizer que meu sorriso é resplandecente
E definem minha vida como dócil.
Por detrás da fantasia colorida
Que meu lastimável público insiste em me vestir
Fica imperceptível a estampa em preto e branco da minha lida.
Os refletores que me apontam,
Ascendem um personagem à platéia subjugante
Que só assistem, mas que jamais se denotam!
Ecoam pra fora da lona invisível suas fingidas risadas,
Vindas dessas soturnas entranhas tão lúgubres,
Onde mantêm as próprias dores enjauladas.
Ainda sim sirvo de espetáculo pra essa gente
Que batem suas palmas a cada ato do meu repertório
E se esquecem que aqui há um coração plangente.
Senhoras e senhores, não se esqueçam jamais:
Que todos nós somos personagens circenses e que muitas vezes
Da boca pra fora proferimos risadas, pra dentro amargamos nossos ais.