Toda poesia
Saio à caça de palavras. Acendo um incenso. Danço pela casa pra chamar a inspiração. Nada. É raro. Mas, às vezes, o vazio me aterroriza. O bloqueio tem um gosto metálico, amargo, de quase eternidade. O silêncio me faz perder o controle. Quebrar regras. Romper a ordem toda perfeitinha. Então ouço aquela voz lá de dentro me falando sobre entrega, deixa nascer, brotar, acontecer. Até pouco tempo atrás eu separei a vida real da ficção. Ah! Que grande bobagem! Eu sou toda poesia. Que tudo se misture até a névoa cobrir a linha tênue entre o que finjo ser inventado e o que forjo para fugir. A arte é a minha realidade. Faço encantos e poções dos desassossegos dos dias. Da inquietude crio as certezas das palavras que se lançam para além dos vazios. E nada disso é realmente meu. São botões de rosas que nascem do deserto. Dentes de leão ao vento. Criações. Universo onírico. Por hora é melhor despertar. Manter aceso o fogo que ainda arde, queima e cura. Sem temer o vazio. Aceitar o caminho que trilha o silêncio. Ser poesia, ser arte, ser tudo de mim em uma só persona.
*Si*