CREPÚSCULO DE UM OLHAR (prosa poética)
Entre a soleira e o portão, eis o mar.
Um oceano das lágrimas encobrindo nas suas profundezas
Nossos sentimentos feridos e, na sua superfície, barcos
Zingando por azimutes imprecisos aos rumos tortuosos.
Entre a soleira e o portão, eis momentos mortos;
Nosso extenso jardim sem orvalhos madrigais;
Nem reflexos de lumes da Lua ou brilhos de estrelas;
Sem perfumes de flores ou botões de renascer primaveras.
Entre a soleira e o portão, eis os horizontes
Para a solidão dos nossos sonhos findados;
Perpetuando a escuridão das nossas frustrações;
Concretizando a ausência dos nossos sentimentos.
Entre a soleira e o portão habitarão as nossas despedidas...
Não me posto ou presto a ser um perdido entre palavras.
Não me negarei a ser somente nossos poemas sem métricas.
Não procurarei na justiça soluções, dera salvações, nem dós de perdões.
Não me encharcarei de tolas desesperanças.
Mas, entre a soleira e o portão,
Ao vê-la pisoteando pedras inertes
Do fundo do oceano de nossas lágrimas e frustrações;
Suportarei ver o brilho do último crepúsculo do seu olhar?
Ah!! Prometo-me, todavia, vir a burlar alvoradas
Para continuar sonhando com noites e noites que tivemos
Nas tentativas de eternizar aqueles nossos preciosos momentos;
E entender o porquê de tanta distância entre soleiras e portões.