Líquidas palavras...
Palavras deságuam de mim aos borbotões
Então insano algum escrito…
Elas irrompem como águas,
Reivindicando cachoeiras para transbordo,
Necessitadas de acontecer,
Almejam poesia...
Palavras quais enxurradas,
Descomprometidas com obstáculos,
Descompromissadas com divisas.
Cresci tendo as orelhas treinadas para torto poeta,
Aprendi a amar os léxicos como crias lambidas,
Uso o verbo para desaguar esses líquidos poéticos,
Enquanto as frases me negam para Cristo...
O dia em que eu enlouquecer,
Terá sido a data mais importante para a poesia,
Pois enlouquecer de palavras
É plenitude poética.
Sentimento poético desconhece razões,
São nacos de demência,
Loucuras letradas,
Funcionando as emoções...
Amo as palavras comprometidas com os loucos,
Fluidas nos discursos de coretos.
Cativa-me os pregões dos feirantes,
Apalavra-me a conversa dos pedintes…
Enfeitiça-me a fala gorda dos bêbados...
Busco as palavras divinizadas pelas crianças,
Autoras inatas de fantasias.
Desamo palavras-porta,
Frases geladas no lugar comum.
Meu escrito não cabe em réguas,
É deslimite emocional,
Dança de lápis divagando devagar ou à pressa...
Medir a poesia como nessa sinuosa liquidez?