Áureo Sofrimento
"Ah, esta angústia singular que me rebenta as fibras do coração! como dói a alegria de quem não têm deuses para agradecer; como é triste a felicidade da solidão; como sofro, por Deus, de tanta gratidão!"
- Me sinto hoje aparentado à solidão das estrelas que muitos mundos ilumina, mas ninguém pode se aproximar, porque sua alma pode queimar, sua benevolência só acaricia de longe, mas de perto pode fere.
Eternamente solitárias em sua grandeza estelar, sustentando em sua órbita os planetas que bebem de sua água luminar, elas passam a eternidade em silêncio sem que ninguém possa lhes tocar, seu coração é um mistério que junto delas morrerá...
A gratidão de viver também fere a alma daqueles que não têm deuses para crer, é uma dor sem sentido que extrapola a alma que se convenceu que fora dela nada há... Solidão, solidão estelar...
Quem comigo sente esta angústia, sabe que, às vezes, a alegria fere mais do que a própria dor; este sabe que a alma têm desejo de partilhar sua gratidão. Assim todos os povos agradecem - como forma de compensação ao sentimento de potência, alegria.
Quando o sentimento ultrapassa o próprio ser, a alma então busca o além para que possa agradecer, pois não sabe como pode tanta alegria em si conter...
É esta lucidez que me apavora - ver tudo como fora, e só eu dentro que de mim aflora...
Já não posso esquecer, minha consciência é meu abismo... o imperecível é apenas símbolo, o eterno só metáfora, para além disso nada existe, só a ilusão de haver o que não subsiste sem minha consciência de ser.
Esta é minha sina, este o meu sofrer - não poder ter uma estrela em que me possa esquecer...