Histerectomia - diário de mulher
Como foi difícil para mim entender qual a função do útero.
Me lembro até hoje quantas vezes perguntei pra minha mãe como podia um lugar ficar preparado para gerar uma vida e também sangrar.
Chorei a primeira vez que sangrei.
Não queria ser mulher, queria ser menina e brincar.
Mas meu corpo se formou rapidamente e o desejo em ser mãe sempre esteve em mim.
Me acostumei a ser mulher e aprendi a conviver com um corpo de mulher, sendo apenas uma menina.
Demorei para me descobrir mulher.
Demorei muito mesmo para amar meu corpo.
Demorei mais ainda para entender o milagre que seria gerar uma vida.
Acho que meu corpo entendeu e demorou para aceitar gerar um bebê.
Dois abortos, e muita tristeza.
E eu não acreditava que seria capaz de dar a luz a um bebê lindo e perfeito.
Mas conseguimos. Meu útero e eu!
Nove meses e um bebê.
Uma cesariana, dois abortos, uma cirurgia de ovários.
Mais um aborto.
Fomos corajosos, meu útero e eu.
Sangramos e choramos...
Mas um segundo bebê nasceu!
E o sonho de ter uma menina não morreu.
E a vontade foi tanta, que meu corpo respondeu com miomas. Pequenos pedaços de carne que lembravam um corpo grávido. Cheio de Mistérios.
Mas já havia dito não ao universo.
Ou simplesmente o universo me disse não.
E não teremos mais o que fazer.
Cheia de gratidão me preparo para tirar esse pedaço de mim.
Cheia de amor e compaixão por tudo o que passamos, eu e ele...
Sentimos os batimentos cardíacos e lutamos por cada um dos nossos cinco bebês.
Com amor e orgulho.
Você fez sua parte! Nutriu com o melhor que havia.
Se esforçou, cresceu, embalou, aqueceu, até quando pode.
Mas seu trabalho acaba aqui.
Agora iremos descansar. Dos 24 anos que incessantemente, mês a mês se fez e se refez... e se desfez!
Estou grata pelo tempo que estivemos juntos.
Sou grata pela luta que vivemos!
E pelas vitórias que tivemos!