[Cerrar a Concha e Partir]
[Outra vez no bar — ainda hei de morrer escrevendo nos bares da vida!]
Senti aquela bela face dura,
e aquele olhar cortante.
Bati a porta em meus sentimentos
e saí sem ao sequer me voltar.
Como um incêndio à solta,
uma dúvida atroz percorreu-me as veias,
e o ódio explodiu em meu cérebro,
em mil fulgurações de mágoa,
uma estranha flor nunca vista!
Uma flor de ódio? Pode?!
Pois foi o que eu pensei,
foram pétalas vermelhas de sangue
que me toldaram a visão,
e tiraram-me a claridade do olhar!
Será?... Ah, a quase certeza de...!
Mais uma vez a dor do desprezo
batendo forte em meu orgulho,
o despeito velado de eu não ser,
dentre os presentes, o mais desejado?
Ah, do meu desejo assim intenso,
ela jamais saberá... ou já o sabe?
Petrifiquei meu olhar no chão,
voltei-me calmo, frio, e saí —
nem uma despedida seria cabível!
Na dúvida, e sou todo dúvidas,
é melhor é cerrar a concha, e partir!
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[Penas do Desterro, 26 de maio de 1999]