Versos reais e utópicos
Eu queria ter a alma genuína, voltar a ser menina... e assim, com a pureza dos ingênuos, não ser contaminada com as maldades desse mundo.
-Não!... eu não absorvo o mal, embora este adentre meu ser, mesmo sem eu perceber... afinal, está em volta, solto no mundo, buscando aliados, involuntários ou não... fazendo vítimas, causando discórdia, estendendo muros.
Tento policiar-me para não ser mais uma refém a praticar maldades e contar mentiras qual fossem verdades...
Os noticiários bombardeiam meus ouvidos sem pedir licença, invadem meus labirintos, inundam a mente, entorpecem sentidos contando os feitos do mal... sobre seus avanços territoriais... dia-ria-mente... em territórios internos e externos... no espaço geográfico ou adentrando seres, que por etimologia da palavra, deveriam SER HUMANOS.
Olha eu aqui deixando-me ser contaminada por ele novamente, dando ibope para a maldade nessas linhas que escrevo, onde desafogo minhas mágoas decrépitas... o mal tem lá suas artimanhas...
Então deixe eu buscar a rima, voltar lá em cima, no topo dessa prosa, dançar uma bossa nova... na melodia dos versos do meu inverso, tão desconexos... perder os passos sem ter de justificar-me por isso... perder a vergonha dos contidos infelizes... perder a cabeça e os sentidos... abrir mão um bocado, das "coerências"... de quê?...para quem?... deixar os significados pra lá, pelo menos por ora... pelo menos agora!... perder o medo de viver com toda intensidade que a vida merece... onde ser menina seria meu refúgio, talvez meu ato de rebeldia, mas essencialmente eu seria só minha... consorte do meu espírito aventureiro... com sorte, escaparia da sina de entristecer-me vez por outra, por não identificação com um mundo hostil onde falta a afeição mútua dos seus viventes... e num torpor causado por minhas epifanias, ter uma øverdøse de alegria... colhendo margaridas e ofertando aos que cruzarem meu caminho... plantando sementes do bem; aguardando florescer, frutificar... criarem raízes... bem firmes e rígidas, habilidosas!... despertar em letargia... só no outro dia... quiçá no dia em que sonhos não sejam meramente fantasias... sem ter de ficar repetindo utopias.