Era uma vez

"Dia após dia vou abandonando tudo que aprendi, desaprendendo o que me impede de fluir, assim eu vôo de volta para a Terra do Mito"

Era uma vez:

- O dia nublou... sopra no vento um sentimento de coisas longínquas, esquecidas, tempos antigos que permanecem como fotografias da alma que relembra, em impressões inauditas, histórias que nunca estão por vir...

Tenho hoje a impressão distante de que o mundo é uma fábula sendo contada pelo poeta desconhecido que escreve-me nestas palavras a prosa de minha vida sem sentido... há um silêncio que os pensamentos e os sons não penetram, como se o espaço encarnasse uma vitalidade na qual a criatividade está livre para narrar o sonho de existir...

Há dias venho observando uma crescente impressão que parece vir das profundezas do mar inconsciente, um sentimento longínquo que desamarra a imaginação das cordas lógicas do pensamento disfuncional e abre a alma para a criação de novas possibilidades existenciais. Dia após dia sobe do abismo esta impressão irreal de que eu, o narrador de minhas ficções, sou também fictício, já não diria de autoria minha, mas do sonho no qual as estrelas sonharam estórias que me narram o mundo que "assim foi um dia"...

Sinto emanar das coisas um encantamento como se este mundo "Era uma vez"...

....uma fábula onde sonhar é a única maneira de não ser preso pelas criaturas lívidas comedoras de sonhos...

Ouço os passarinhos cantarem minha alma que derrama sua incorpória essência pelos ouvidos do corpo, minha prosa ganha um aspecto sinestésico através das palavras que se embrulham na paisagem que se estende pela minha consciência. Lanço um olhar para o abismo de silêncio azul celeste e sou absorvido pelo mistério que reflete a alma que me sorri nas nuvens que se arrastam para lugar nenhum do nunca... sinto-me imensurável e infinitesimal(mente) pequenino, misto de criador e criatura, compondo-me ao som dos estalidos de panela e vozes de gente e passarinhos ecoando dentro do divino silêncio do Abismo...

O mundo é uma fábula, e eu sou a prosa que narra o impossível através do inútil...

Abandonei as verdades dos reis do mundo e fugi correndo dos castelos celestiais dos sábios, fui para junto das crianças que em mim contam estórias antigas do mundo nunca antes vivido...

Era uma vez a Terra do nunca...