Tenho pensado muitas coisas
Tenho divagado sobre o céu matutino
e seu azul, sufocante e pálido.
Quase triste. Perdido entre prédios,
madeixas castanhas, loiras e ruivas.
O que me dizem todas essas cores?
O que escondem sob o ruído do meu coração?
Até mesmo a palidez tem queimado
as cores falsas da minha alegria inflamável.
O que dirá a minha paixão? Absolutamente nada.
Todo o meu caminhar tem sido silente.
A despeito da música nos fones de ouvido
e da cantoria dos mendigos em desvario
Tenho certeza que é silêncio que escuto
quando o painel da praça exibe o horário.
Bem sei que as cores são refúgios para o surdo
que alivia suas dores ao amar o mundo externo
enquanto mortifica qualquer compaixão
pela própria imagem, sórdida e moribunda.
Se eu me amasse como te amo, seria feliz.
Tuas lembranças transbordam em meu peito, apenas.
Dói-me cada centímetro da alma ver-te assim,
vertendo ansiedade e castigando a si mesma.
Dar-te-ia os prazeres que preferisse,
do chocolate às risadas involuntárias.
Apenas não maldiga a beleza do teu corpo,
perfeito enquanto égide do céu
escarlate, quente e sinuoso que tu és.
Contraste para minhas manhãs pálidas.
Mas se as brasas dos teus lábios desvanecem,
resta-me a frieza das noites comuns.
E quando chego em casa, numa dessas noites,
todas as palavras e emoções evaporam.
Sou mero procarionte da memória,
movendo-me nos destroços do dia que passou.
Por ter pensado muitas coisas, os destroços vencem
e sou soterrado por aquilo que não sou.