Persianas

Em moldes que eu mesma criei, tento caber...entretanto, o transbordo é inevitável...

Em cômodos milimetricamente delimitados, às vezes não me caibo...

Profusão de sentimentos desconexos, exasperados... estreitam meu corpo volátil.

Estática, forço encaixes; mas faltam-me elos.

Nos meus alinhavos existenciais, algumas rebarbas. Fios mal tecidos, desfiados, deflagram a fragilidade de quem os teceu.

Quiçá saberei denotar quem esculpiu esse emaranhado, falta coragem para alguns aceites e inevitáveis confrontos; vez ou outra fico fora de mim...recobro a consciência e deparo-me com um amontoado de costuras em tonalidades de linhas que sequer conversam entre si ...estrategicamente colocados como apetrechos, mascarando inúmeras cicatrizes.

Absorta em pensamentos desconexos, cavo buracos dentro do meu ser.

Busco uma saída, clamo pela lucidez.

Convoco a intrepidez!... que fracassa em alcançar-me.

Um abismo impede a passagem; decerto, mesmo que aleatoriamente, parece enxergar o que os meus olhos se recusam.

Em calabouço soturno, me isolo.

Rasgo minhas vestes maltrapilhas, carcomidas por mãos impacientes.

Num cume de emoções altamente radioativas, fico por ali prostrada... aos prantos... colecionando lamúrias, ouvindo meus gemidos reprimidos, encolhendo-me dentro de cavernas sub(cutâneas).

A derme pálida revela o esverdeado sagrado da vida; lençol freático que abriga fluídos de escarlate a inundar o meu afluente cardiovascular, conquanto o sol se esquecera da minha vil existência; na minha incompetência e falta de jeito para que ele pudesse notar-me...cultivei frivolidades com empenho que agora me falta.

Rogo aos céus para que um feixe de luz invada as frestas das minhas persianas e possa resgatar-me... das trevas que eu mesma crio e reinauguro, toda vez que a tristeza vem visitar-me e dou aval para adentrar. Das vezes que fracasso em expulsá-la... sem esforço algum para coibir sua permanência, em dias de estada que não sei precisar... em camarote ela se acomoda, enquanto aprecia o meu ruir... armadilhas que eu acostumei a cair.

Fênix Arte
Enviado por Fênix Arte em 24/07/2023
Código do texto: T7844316
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