Eu não sou eu

Claramente em mim há uma dualidade óbvia: um eu racionalista, demagogo e inteligente; doutro lado, o eu emocional, vívido, mas contido. Sinto duas existências numa carne só. Naturalmente entendo Fernando Pessoa. Na sua exímia complexidade, e nas extensas heterônimas de sua alma, vivia um homem duplo. Sou um homem dual porque reconheço mil Eus percorrendo meu cérebro: dois porque, em perfeita compreensão, entendo haver o Eu que pensa e o Eu que acredita pensar; o lógico e o emocional, alforriando no inconsciente para se sobrepujarem ao topo.

Por várias ocasiões me vi desconectado de mim. A despersonalização é basilar a minha essência. Ora, às vezes sou algo, às vezes sou outro, perco-me completamente nesse labirinto. Meu emocional entende minha fragilidade: um homem sensível, amado e amante, mas inseguro em última instância. Criança lá no fundo, puro, mas que o mundo insiste em corrompê-lo. E vendo-me no reflexo do espelho, avisto o Eu ponderado. O Eu questionador, sem trelas para sentir, mas só para entender. Às vezes quero esse meu Eu a todo tempo, mas ele é limítrofe, só consegue entender (se é que entende) a superfície.

Já não sei como conciliar esse casal. É como se fosse um relacionamento sem amor, apenas juntos por um contrato: meu corpo magro, meus ossos doídos e meus olhos fundos de amargor. Queria rezar aos céus para que num beijo, meu Eu emocional e meu Eu racional, fundissem numa paixão solene.

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 22/07/2023
Código do texto: T7843388
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