O mundo como metáfora
"Não encontrareis a Verdade nem por terra nem por mar, nem por fórmulas nem por idéias. Busqueis, busquei a Verdade e a "verdade" vós o enlouquecerá"
Quando ergo-me do que tem sido minha vida compreendo que todos os meus passos não foram mais do que a busca por uma verdade que não poderia ser encontrada, e sim vivida - criada. Quem não encontra o que procura deve criá-lo para si. A Verdade é a dinâmica espiritual da vivência singular. E isso não quer dizer nada. A Vida não é um argumento.
Naveguei pelos mares desse comboio chamado coração em busca da "verdade", mergulhei na religiosidade das religiões, ritualizei com os enteógenos no delírio caleidoscópico da alma, dissequei a filosofia e aspirei junto da ciência a inutilidade de uma fórmula de tudo e, por fim, cansado dessas viagens olhei-me no abismo da alma e o abismo olhou-me de volta...
Enlouqueci? Que seja. Que sei eu! Não há mais volta. Não me importo mais se algo é verdadeiro ou falso desde que eleve minha potência de sentir e conserve minha vida das prisões sistêmicas do pensamento. A ilusão é tão necessária ao crescimento da inteligência quanto a verdade. A "verdade" é um erro necessário do pensamento. É nisso que falo numa nova linguagem. O mundo é uma metáfora. A verdade objetiva segundo os ditames da lógica é uma ilusão necessária para conservar seres como nós, que sem garras e dentes afiados para se protegerem tiveram de evoluir sobre a base de conceitos os quais não encontramos equivalentes no rio da vida. Tivemos de inventar o mundo que têm valor para nós, agora temos de preencher uma segunda natureza que não vive sem a fantasia. O pensamento é para o ser humano o que a teia é para a aranha...
Ainda teremos necessidade de novos mitos. Mas onde estão os loucos para sonharem? Ocultos nas brumas de seus sonhos, grávidos de si mesmos, aguardando a hora em que a Necessidade cósmica desperta-lo-as para os mitos que lhes nascem da fantasiosa alma do mundo...
Através de nossos sistemas de pensamentos não chegamos nem perto de tocar a essência "em si", pois supondo sermos nós a nossa própria realidade a essência deixa de ser imutável como suponha os axiomas lógicos do princípio da identidade de Parmênides, Arístóteles e Platão, para então ser múltipla, fluída, dinâmica. Não há "em si"... Somos muitos em nenhum. Outros sem ninguém. Máscaras ocultando máscaras. Alteridades abissais...
Minha realidade se misturou ao sonho, a poesia embrulhou-me nas ideias que voaram em busca do impossível através do inútil. Eu perdi os limites que dividem o "verdadeiro" do "falso", " dentro" e "fora", só posso me comunicar através desses conceitos pela ironia das aspas. Sou poeta fazendo filosofia lírica com os conceitos. Sou o avesso do mundo. EU SOU - meu próprio mundo...