Agradeço ( ou carta para quem se ama)
E pensar que foi sua ausência, sua premencia de tempo, de caminho próprio, enfim, foi a possibilidade de te perder, de nunca mais te ver, que aprendi ser eu. Te agradeço, amada minha, de agradeço, com todo meu amor, com toda minha alegria, te agradeço como se tudo se salvou porque você não jogou a bóia. Sua decisão de não jogar a bóia, sem que eu tivesse consciência, me ensinou a nadar e conseguir chegar em terra firme, então, com todo meu amor, eu agradeço.
Não saberia dizer, amada minha, se sem tua ausência, sem sua decisão de querer a própria estrada, seu próprio caminho, sua própria caminhada, não sei se haveria outras possibilidades que eu pudesse experienciar. Confesso que tive medo, medo de não conseguir, medo de me perder, medo de me envolver em aventuras que não sabia se devia. Mas como saber, como ter consciência se não se arriscar, não é? Então, lá fui, com garra e alguma coragem, mas fui. E foi nessa possibilidade de me permitir outros caminhos, que me dei conta: você, com sua ausência, foi minha tábua de salvação. Nadar sem bóia, acredite, me ensinou que mesmo sem bóia, a praia pode ser alcançada.
Amada minha, com todo meu amor, eu te agradeço. Não sei qual poema expressaria, com fidelidade, todo meu amor. Então, não dedicarei nenhum poema. Não gritarei para todos ouvirem o quanto te agradeço. Ficarei aqui, no silêncio da minha existência, no silêncio do meu pensamento, ficarei quieto, nenhuma palavra seria capaz de traduzir o que sinto. Aceite, não como se fosse uma despedida (nunca se despede de quem se ama), mas como um breve adeus, aceite amada minha, com todo meu amor, meu agradecimento.
Aprendi que a vida, e foi sua ausência que me ensinou essa nova possibilidade, se faz com momentos que nem fazíamos ideia serem previsíveis. Como pensar que tudo segue a mesma lógica, a mesma frequência de dois corpos com suas próprias vivências? Não. Nunca seria possível, afinal, é exatamente esse dinamismo que só a vida pode oferecer, é exatamente isso que nos faz seres capazes de pensar a própria existência. Então, minha amada, meu amor, te agradeço por me devolver algo que eu supunha esquecido. Agradeço por possibilitar que eu, com sua ausência, sem sua bóia salvadora, pudesse enfrentar as ondas . Sua ausência também me ensinou que mesmo sem ver a lua é certo saber que ela existe. Então, aprendi que mesmo ausente, você estará lá, bem guardada, com todo carinho, dentro do meu coração. Não são as estrelas que inspiram os poetas, são suas imagens que fazem nascer o poema. Você é meu poema, então, agradeço; com todo meu amor, agradeço. Agradeço sua decisão de se ausentar, agradeço porque, ao não me deixar outra possibilidade, outra alternativa, senão entender que é na ausência do outro que algo acontece, aprendi que caminhar sozinho também é caminhar. Então segui. Segui como se a estrada se construísse conforme eu avançava. Aprendi que mesmo sem bóia há outros modos de se salvar, então eu te agradeço, com todo meu amor, eu agradeço.