DOCES AMANTES (prosa poética)
O anoitecer pinta-se de negro no céu de zinco realçando os furos brilhantes que chamam de estrelas. A negritude da noite nos realça sentados na varanda, docemente entrelaçados pelos costumeiros abraços amantes. Defronte ao jardim, dele pouco se vê na bela negrura infinita sabendo da sua existência anunciando-se pelos frascos-flores abertos exalando provocantes perfumes. No complexo negritar, o silêncio reina entre abafados grilados dos insetos; por entre farfalhares de folhas pela petulante brisa; no ao longe daquela lagoa que estanca lágrimas dos amores terminados, e dela, mesmo, vem o arroto dum sapo mal-educado. São as nossas noites sucedendo noites. As nossas noites separadas das demais de outros amantes.
Adoro as nossas noites de um todo que ao poeta que sou, versa rimas longínquas. Nelas é sempre longe a duração do anoitecer; são longínquos os frascos-flores exalando perfumes; a longura da lagoa de águas doas amores terminados; o distante e incabível sapo-falante somente arrotando. Tudo é longe, fazendo-se eterna parte do nosso presente momento.
Paradoxalmente...
— A nós dois tudo é perto por causa do amor: as vontades amantes que possuímos e renovamos; nossos beijos fortuitos e inopinados; meus roçares com mãos bobas nesta sua pele lindamente preta e macia como veludo que exala desejos mais que cobiçados.
Entretanto, as histórias sempre presentes, não se fazem silenciosas pelos nossos corações ansiosos de aventuras eternas, viandantes dos nossos suspirares mais intensos que a brisa viciosamente petulante.
— Não falaram da Lua. Esqueceram-se dela, amantes?
— Não! Nem eu e ela a esquecemos, a esqueceremos, como jamais ao Sol. Não os mencionamos, pois a Lua e o Sol não são bobos para meterem suas colheres alheias em nossas brigas de amores intensos.