O que amo provém o meu ódio
Jamais absolvido do que amo, porque o que amo provém o meu ódio. Escrever é uma égide contra mim e o mundo, mas escrever é tão corrosivo quanto ácido. Ainda que minh'alma necessite derreter-se ao mundo, para o resto do estrume da existência banhar-me, sofro por ser da classe dos escribas.
Há razão do meu dom doar-me as cinzas dos meus sentimentos? Para minha pobre consciência, não há sentido no que é mais belo ser também o mais infame. O entrelaço das sentenças poéticas por todas as horas me açoitam à consciência. Sou um delírio de palavras, nada mais que palavras. Sacrifico todas as minhas experiências, contanto que elas, numa metamorfose inexplicável, arrotem frases jamais palpadas ao coração.
Busco na vida uma metafísica que não interessa a ninguém. Acho que nem a mim, escritor perdido pela perdição. A caneta todo dia sangra o papel, torturando um material tão útil a quem precisa. Mas não eu! Sou quem desperdiça melindrosas idiotices no papel. Oferto uma infindável dor a matéria vinda das árvores — escrevo agora minha compaixão as florestas de todo mundo.