ALMOÇO SEMPRE ATRASADO (crônica)
Quero que seja uma crônica-valsa. Aquela com que se inicia a dançar e que a ela se reza para que nunca termine. Mas termina, pois o maestro Tempo recolhe os principais instrumentos antes do término do precioso baile.
Acordei lembrando-me do passado. Na verdade, daquele em que chegava para almoçar e a encontrava cozinhando com seu aventalzinho pedindo para ser amarrado numa cadeira com ela e tudo.
Sabedora por fazer parte da piadinha, a mãe antecipava à pergunta se o almoço estava pronto:
— O almoço somente em vinte minutos!! e aguardava como uma boa escada numa cena cômica de improvisos.
Eu, fingindo de esfomeado bravo e com impaciência:
— Guiomar, Guiomar! Mais uma vez atrasada...
Ela, docemente como sempre:
— O meu almoço sempre está na hora certa e, marotamente, aguardava pelo arremate:
— Atrasada, sim! Guiomar, Guiomar.... Para não se atrasar que começasse, então, vinte minutos antes.
Ela:
— Ou que você chegasse somente daqui a vinte minutos.
Nós gargalhávamos enquanto as trocas de beijos ocorriam bem temperados como feijãozinho, fumegante, ensopado de bacon. Na verdade, éramos três: O meu pai à mesa, também, aguardava seu bom bocado com talagadinhas da pinguinha que íamos buscar em Descalvado, juntamente com pão sovado, duas vezes ao ano no sítio do sr. Candinho. No entanto, esta é outra doce recordação, em alguma gavetinha de segredos na minha alma, e que um dia contarei.