Sob a luz do plenilúnio
Sob a luz do plenilúnio, na companhia dos defuntos que jaziam inertes nas telúricas tumbas, fui tomando por uma visão profunda e vi, pelos olhos vermiculares, a decomposição da carne humana. Pude sentir, no silêncio das sepulturas, a putrefação das células moribundas e os eflúvios pútridos do que antes era redolência. Quis compreender os propósitos desta mecânica nefasta e encontrei somente, em meio ao humos, a bílis amarelada vazando pelo túneis feitos pelos vermes. Engulhado pela putrescência daquela visão, implorei para voltar ao mundo dos vivos, mas recebi somente o silêncio como resposta, e a dor de existir... A agonia tomou-me por completo, quis correr mas não tinha pernas, então notei, fitando a escuridão, que era meu corpo a refeição dos vermes. Como se já não bastasse às nódoas da vida e nosso funesto destino sem saída, eu sentia a ânsia dos vermes e a dor da podridão. Por dias fiquei na companhia dos seres inóspitos, sentido-os entrarem pelos meus olhos e saírem pela boca. Morte, semeadora dos defuntos, sempre chegando pelas portas dos fundos, levastes até mesmo os vermes que me faziam companhia na frialdade da carne morta. Na solidão dos ossos choro, procuro uma saída, esquecido pela natureza morta tive um déjà vu, como se já tivesse passado por esta vida. Aquilo me apavorou e clamei a Deus por ajuda, entendendo o que todos sempre disseram: - que no fim de toda esperança para Deus recorremos às súplicas. Não sei se fora coincidência, ou milagre da divindade, pois acordei no banheiro de casa segurando nas mãos uma navalha e as cartas que seriam para a minha morte...