GRAÇAS, À VIDA! (prosa poética)
Repito os caminhos...
Chego...
Observo...
Entro pela mesma porta...
Autônomo...
Sento-me, respiro profundamente e não choro: A vontade de fazê-lo é enorme, mas não choro.
Represo-me em águas salgadas, dias e dias acompanhando os calendários substituídos pelo passar do tempo, pelo sr. Tempo, envolvido pela sua ausência.
A minha companheira tagarela sem parar, expressando o que sinto e o que tento afogar nos prantos da alma: É a minha voz interior, minha consciência a me alertar:
— Graças, à sua vida! Dê graças, à vida! Não perca energia criando paradas do tempo. O Tempo é fluido, não se represa. Nunca marque a sua marcha pelos ponteiros do relógio. Jamais se entregue aos momentos amargos, pois eis que estão somente de passagem, assim como o amor e a indiferença, a alegria e a tristeza. A ausência sentida está de passagem. Todas as ausências são sentidas, mas como momentos estão de passagem.
Obedeço...
Dou, graças à vida!
Bem que eu sei...
Estou vivenciando e pouco ou quase nada aprendendo...
Respondo ao espelho, logo à entrada da minha alma:
— Sim, graças à vida! ainda a amo. Ainda sinto a sua presença. Seu perfume está a impregnar o lugar em que moro. Onde ainda moramos, pois eu considero errado erradicá-la de casa.
Por quê?
Conseguirá encontrar-me em algum outro lugar? Claro que não! Foi aqui que tudo fizemos e juras decretamos.
Irá achar-me com outros sentimentos? Claro que não posso mudá-los, pois, foi com eles que dividimos momentos mágicos.
No entanto...
Eu cada vez mais repito os caminhos...
Abro a mesma porta, penetrando cada cômodo com os mesmos pensamentos, com a mesma esperança de vê-la surgindo de algum canto, disposta a ficar.
Deixo janelas abertas, que por cada uma vislumbrávamos estrelas distintas e batizadas que por nós recebiam novos nomes. Nosso segredo: Mudamos todas as cartas astronômicas e astrológicas existentes, pois, depois que ficamos juntos o Céu tem outra configuração.
Então, é de bom alvitre que eu fique. Claro que não vou embora. Possuo esperanças de que sinta saudade, que retorne e tenho a certeza plena de que aqui é o único lugar que irá procurar-me. Garanto-lhe que é por isso.
Insisto em ignorar a minha voz interior, que teimosamente fala mais alto, insistentemente, tentando provar que estou errado.
Grita-me com autoridade:
— Graças, à sua vida! Dê graças, à vida! Nunca se estacione nas paradas do tempo que jamais serão criadas, pois o tempo não se represa; jamais marque a sua marcha pelos ponteiros do relógio. Não se entregue aos momentos amargos, pois eis que estão somente de passagem.
Obedeço...
Dou graças, à vida!
Porém...
Insisto, ainda eu não tenho coragem de uma nova vida começar.
Vou esperá-la...
Desesperadamente...
Esperá-la como o único esperançoso ser vivente, embora sempre dando graças aos meus sonhos com as nossas vidas! juntos.