Desalentos Noturnos #03
Passei uns dias sumido
Se for começando pelo óbvio
Porém, antes de começar
Sugiro colocar o disco The Heart of Saturday Night, do Tom Waits
Observar o céu por onde moras
E, se possível,
Se manter sozinho enquanto vês a noite cair
Assim estaremos ligados por tudo o que rege este poema: música, noite e solidão.
Dito isso, a última semana se mostrou um monstro invencível
Dias seguidos noite adentro
Perdido em conversas intermináveis de mesa de bar, onde cada um tem sua razão
Sábios conscientes de conhecer o inferno diário que é amar e odiar aquilo que se é.
Desde quarta-feira passada tento dizer algo que me acalmasse por dentro
Mas devido ao estado que chegava em casa
Mal conseguia me manter de pé
E as palavras fluíam no meu pensamento como sons impossíveis de serem pronunciados
Ou como palavras escandinavas cheias de consoantes
O que aumentava o meu desespero
Pois até ao tentar pronunciar alguma coisa
A língua embolava, e eu sentia dificuldade de respirar.
Acordava no outro dia sem saber como cheguei em casa, com quem estive na noite passada
Ou se me meti em confusão.
Com o tempo você se acostuma
E entende que é melhor não saber
Ou apenas desiste, por ser mais fácil continuar assim
Sustentando desvios dois, três, quatro dias na semana
Uma, duas, três da madrugada.
Hoje faz três dias que me mantenho clean (limpo)
Sinais que o corpo tem dado
Semelhante a um carro quando começa a falhar.
O disco acabou, e a noite se aproxima
Enquanto assisto o Tom, bêbado, em seu piano num programa de TV norte-americano.