Desabitada
Quando eu não morava em mim...
minha casa era vazia e cheia de gente, e ainda assim, não era completa.
Quando eu não morava em mim...
eu ainda não era assim, ressureta.
Quando eu não morava em mim...
tudo era desordenado, e havia uma falta de cuidado.
Quando eu não morava em mim...
aceitava de tudo, não havia respeito... e tudo era rarefeito... nada abrandava meu peito.
Quando eu não morava em mim... era um verdadeiro entra e sai, gente que entrava e depois saía... quase sempre sem bater a porta.
E era tudo um desassossego, tudo tumultuado... eram tantas vozes ecoando, qu'eu não conseguia dar conta do recado.
Quando eu não morava em mim... meu amor próprio preferiu ficar calado... e não!... ele não foi omisso... mas havia um descompromisso... da minha parte. E ainda que fosse tarde para ele me resgatar, minha própria vontade, teria de se manifestar.
Quando eu não morava em mim... não dei ouvidos a ninguém... fiquei aquém do meu valor... a mercê do desamor... eu não lutava em meu favor.
Quando eu não morava em mim...
não escutava minha própria voz... me concentrava mais em ser meu próprio algoz... quebrei a cara, estilhacei meu coração... eu simplesmente não fazia questão... embora fizesse questionamentos... mas apenas me despedaçava por dentro!
Quando eu não morava em mim... fui assim: omissa, iludida, triste!
Mas a dor é uma lição que a tudo resiste... depois que tudo inflamou, mais perto estava a minha cura... e se antes ninguém me amou, eu ainda era tua... meu único e verdadeiro amor... o que me resgatou no fundo do poço, com muito louvor... e das minhas feridas tratou, pois não poderia ser diferente... meu autoamor, nasceu assim: insurgente!... cuidou amorosamente de mim... porque por mais que meu teto desabasse, nada daquilo era meu fim... me vesti do avesso e isso foi meu recomeço!