Regressão

Ainda não compreendo porque minha mente insiste em voltar a momentos específicos da minha lenda pessoal. Aquela esquina que me deixava vislumbrar a praia, o nascer do sol, acreditando que seria capaz de deixar a outra vida para trás. O mar sujo de rio, com toda aquela vegetação que se emaranhava no meu cabelo. O travesseiro que enxugou as minhas lágrimas. Que farei com todo esse silêncio criativo? Não sei se saio à caça da palavra que acenderá o caminho da poesia escondida no porão. Ou, quem sabe, deixo ir. Aceito que um ciclo está fechado. A euforia não é fértil. Não tem o gosto amargo da melancolia, tão rico, tão criativo. Em dias de movimento intenso, de energia em alta, não sobra tempo para sentir. Para se conectar com a essência. Minha poesia é um mergulho. Catarse. Tem a força de uma barragem que se rompeu. Transborda. Cruza as fronteiras dos horizontes para além de mim. Não conheço a labuta da busca pelo encontro perfeito. A técnica, o suor para construção da sentença correta, limpa, ajustada. Mora em mim uma porção generosa de caos. Dele me alimento, construo meus castelos, de areia, sal e água.

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 18/07/2023
Código do texto: T7839808
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