Absurdo de Existir
Às vezes, por influência de um estrangulamento da inteligência diante do Absurdo, minha alma dilata em trevas; todo eu torno-me uma oração lúgubre em que narro a prosa do horror de existir...
Lanço um olhar sufocado para o céu e vejo as nuvens absurdas tomarem formas de criaturas medonhas projetadas pelo horror de aí estarem. Não compreendo, não entendo... Como é possível que haja seres e não-seres? Como é possível que aquele cachorro conduzido pelas mãos silenciosas da vida possa aí estar? Como pode ser que eu aí esteja, lúcido até a loucura, consciente do mistério que me estrangula a razão vencida? Como?...
Não há resposta, somente o silêncio inexorável que inspira de todas as coisas a transcendência do mistério vestido de gente, flores, bichos e estrelas...
Há dias que minha lucidez é límpida como este céu mudo de azul cinzento, mas, por ânsia de querer saber, minha inteligência horroriza-se diante da menor existência, porque em cada pedrinha, em cada grão de areia dorme o infinito e o Absurdo enigma de haver algo em vez de nada...
Sofro, hoje, de uma angústia inteiramente intelectual, um sofrimento da inteligência, um horror que não se cala enquanto não expresso o sufocamento que estrangula minha razão. Nestes dias o vácuo do mundo bafeja como uma coisa viva, o vazio que preenche o espaço inspira a impressão sensível de coisas inauditas. Minha inteligência não dá conta da percepção inexorável do Instante sem tempo em que caem as horas no Abismo de mim mesmo...
Seguro-me na sabedoria simples de que tudo passa e aguardo a hora em que deste horror eu possa despertar para o milagre da vida sem a consciência do pesadelo da inteligência...
Aguardo, e enquanto aguardo - escrevo...