Mágoas de um Velho (O anarquista)
— O povo emprega um cidadão
Que lhe roga o labor
E lhe garante o ganha-pão
De cidadão trabalhador.
— O povo ainda o remunera
Com um salário capital
Que multiplica e juros gera
Causando inveja nacional.
— Da incerteza o povo o isenta
Ao porvir não dá ciência
E muito cedo lhe aposenta
Seguro está com previdência.
— A este povo que o emprega
O tal recusa e acha abuso
Dar-lhe trabalho o que lhe nega
Sem promoção de um concurso.
— E ele não remunerado
Não vai morrer proposital
Por conta de qualquer trocado
É camelô - bico formal.
— Ao pensar ficando velho
Como será que há de ser
A neve tinge-lhe o pentelho
Roubando a ânsia de viver.
— Mas nessa honrosa persistência
Nunca jamais vai se entregar
Com o carnet da previdência
Se não morrer... Se aposentar.
— Para sistema escravocrata
Não vote mais nem eu nem tu
E com perdão de oligocratas
De lhes mandar plantar caju.