PALAVRA MALDOSA (prosa poética)

Tem palavras das quais não gosto. Odeio-as.

Uma se sobressai sendo a mais poderosa e nefasta que a solidão: A Solidão é a viajante intrometida, mas quando chega faz o seu papel e vai embora. Sempre vai embora. Ela não! Mesmo, indo embora, deixa-nos resquícios. Não gosto dela e do sentimento que a representa. Ó! ousadia de alguém que deseja se expressar através das palavras ou por elas. Um dia crescerei na arte. Quanta pretensão? Talvez pretensioso, porque sonhador há muito me transformei. Malgrado a, falo mal de uma em particular. Sempre cantada em prosas e versos pelos poetas que a rimam com qualquer palavra. Com tais versos primorosos eu me deixo levar às vezes ao deslumbre, quase que a aceitando no rol onde guardo muitas por tanto ler.

Reluto...

Não a aceito, a não ser por necessidade de expressão.

Falo da Saudade. Eita! senhora petulante.

Nem bem os filhos cresceram e fizeram morada no mundo, felizes, com sucesso, crescendo a olhos vistos, e ela ousa bater à porta do meu coração gerando tristezas.

Ou...

A amada despediu-se, ainda que amiga e disposta a uma vez ou outra voltar para a última valsa, a senhora Saudade aparece para me fazer de morada definitiva.

Chegando a velhice, só isso, ela me espreita ávida. Procura encontrar brechas na minha existência para ser a dona do meu destino.

Nunca lhe dei trelas.

Isso a deixa furiosa a me perseguir. Vãs são as suas tentativas até hoje, mas me persegue.

Como noutro dia...

Abri o meu coração com muita alegria para a Felicidade e ao Otimismo. Eu sou merecedor de convidá-los ao meu círculo. Pedi para escolherem um quarto definitivo no meu coração, pois disponíveis estão alguns dos cômodos, sem a necessidade de pagamento de aluguel.

Mas, a maldosa e indesejável entrou sorrateiramente coração adentro, procurando abrigo. Veio de mala e cuia, mas lugares vagos não achou, pois destinam-se aos bons hóspedes, sob os olhares da Temperança, disposta a me dar bons conselhos.

A petulante, ainda assim, percorreu todo o meu coração. Incomodou ao Sorriso e ao Amor. Incomodou a Justiça que, também, em mim mora. Perturbou o Conhecimento que sai e volta com novidades.

Xeretou o Sonho cativo em minha vida, a Alegria atuante e outros sentimentos, infernizando-os, querendo desalojá-los da minha existência.

Invadiu-se no meu interior e nada conseguiu, pois não sou bobo de deixar uma porta no fundo. Então, ela terá que sair por onde entrou: frustrada, cabisbaixa, com o rabo entre as pernas.

Esperarei...

Com a ajuda da Vontade e da Determinação, darei uma boa raspança, aquela de deixar até o senhor Bom-senso, o mais velho dos meus inquilinos, ruborizado.

Enxotarei ela porta afora para que nunca mais volte.

Definitivamente.

Quem sabe?

Porém, aconselhado pela Segurança, doravante elegerei a senhora Prudência para ser a porteira do meu coração por toda a eternidade.

Arabutã Campos
Enviado por Arabutã Campos em 12/07/2023
Código do texto: T7835078
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