[Devaneio: Mares de Minas]

[Delírio das horas lentas da tarde]

Numa madrugada fria de junho,

eu nasci, e nasci sobre a terra firme,

pois era Minas, e lá não havia mar;

— um engano dos meus olhos?

Ora, havia sim, os mares verde-cinza

das planuras infinitas dos cerrados,

onde os Buritis das veredas formam

mansas ondas verdes no remôo dos ventos;

havia os mares verdes das imensas pastagens

onde o melhor guia são as estrelas do Cruzeiro do Sul.

E coroando, dividindo, intercalando esses mares,

altas vagas inexpugnáveis, as montanhas de Minas...

Nesses mares tão vastos, tão vastos

o peito se enche, quer gritar, e até grita,

mas a própria vastidão sorve as palavras

e nunca, nunca as devolve...

Mares de Minas — mares onde, sem milagre,

eu tanto caminhei, trilhei até doerem-me os olhos,

até gastar toda a esperança de eternidade,

até saber-me morrente, longe de casa!

Mares de Minas — que mares são estes?!

Não é devaneio: havia mares, eu os vi...

[Penas do Desterro, 18 de dezembro de 2007]