Desabafos Noturnos #01
Observo com calma
E respiro devagar
O dia a dia tem sido de matar
Mas por aqui vai tudo bem
Não quero que me vejas com olhos de lamúria
Nem que eu desperdice o teu tempo
Escrevo sobre coisas que aconteceram comigo
E disso nunca vou reclamar
Seja pelo bem ou pelo mal
Pois entre Deus e o Diabo
Nunca tomei partido
O que me parece razoável
Para alguém que aprendeu a estar só
E viu nisso uma chance de se expressar.
Como disse, as coisas não vão mal
Mas sinto não poder revelar quem te escreve
Por trás de uma névoa algo se esconde
E no infindo reino dos homens
Pode ser qualquer coisa
Por isso, nos braços dos rios
Que entrecortam este planeta de possibilidades impossíveis
Ouço com atenção a tudo o que me toca
E nessa noite
Sem explicação que fosse ao menos racional
Ouvi pássaros cantando no meu quintal
Escuro como sempre
Em meio às árvores que crescem do outro lado do muro
Eu disse pássaros
Pássaros noturnos
Não havia vozes humanas
E num ato súbito
Me debrucei na janela
Iluminada pelo lado vazio da lua
Há meses que ouvia cores e vozes aqui na rua
Mas até então não havia reconhecido o meu nome quando alguém cantou.