Reminiscências...
Desde os remotos tempos de nossa paupérrima e quase acachapante infância ali na Lapa, onde só conseguimos sobreviver graças à bondosa mão de Deus sobre a amorosa e incansável mãezinha Chica, dando-lhe fortaleza física e espiritual para nos proteger ( eu com cerca de quatro anos e o Carlinhos com menos de dois) do frio cortante e dos constantes temporais e todas as demais intempéries materiais da nossa vida de então, quando mesmo ali naquele humildemente inesquecível casebre onde certamente existiam mais frestas, assustadoras e friorentas frestas, que tábuas enfumaçadas nas suas fragilíssimas e balouçantes paredes... Confesso que até os dias de hoje, mesmo vivendo segura e confortavelmente nesta minha segunda fase da “melhor idade”, enquanto ainda agradeço diária e fervorosamente pelo desumano sacrifício daquela amada pessoinha em nosso favor, jamais consegui me libertar do devastador pavor que sempre me causaram os aterrorizantes gemidos dos ventos açoitantes, que assustadoramente antecedem os temporais e os demais eventos climáticos de grandes potenciais destruidores.
Mais ainda isso me acontece bem mais amiúde, quando não posso mais ouvir aqueles também medrosos mas benditos, amorosos e encorajadores sussurros de minha querida mãezinha Chica e de meu amado irmãozinho Carlinhos ao meu lado antes de cada temporal, pois ambos já recolhidos ao Reino Celestial, quando rogo ao SENHOR que estejam aos pés de nosso Senhor Jesus Cristo, o Salvador, aguardando a segunda vitoriosa Ressurreição, quando todos nos reuniremos de volta, então no original plano espiritual.
Dedico esta singela lembrança ao meu irmãozinho Carlinhos, recentemente falecido, quando nem me encorajei a ver seu corpo inerte, ali já sem vida carnal... Mas por certo e justo lembrarei até meu derradeiro dia terreno daquele molequinho alegre e feliz, bem ao contrário deste velho carrancudo que sou desde aqueles tempos, mesmo quando ali tentando sobreviver naquele nosso paupérrimo ranchinho de chão de terra batida, e trempe esquentada a gravetos, embora quase constantemente vazia sobre as pedras naquele pequeno espaço que se imaginava como uma cozinha real.
Armeniz Müller.
...Oarrazoadorpoético.