Devir-ser
caiu do céu uma ideia nebulosa, resplandecente, sombria e sublime: - Eu sou, eu fui, eu serei.
sozinho estou, sozinho fui, sozinho sempre serei…
tudo que já fui eu serei, tudo que serei eu já fui, no entanto, Sou.
sinto-me preso à minha liberdade, fechado em mim mesmo. minha vida é uma gaiola de céu e nuvens em que sou o pássaro e a prisão.
não há fim para mim, pelo menos não em minha concepção de mundo; e se não há fim, também nunca tive começo. conheço apenas a transitoriedade do mundo, o horror da destruição e a beleza da criação.
minhas palavras lhe soam inspiração de um místico? metafísico? - se assim quiserem, meus leitores, interpretem-me.
eu, por mim, falo apenas do que experimento, por mais ambíguo que soe minhas palavras, pois só conheço o caminho, a transitoriedade, o movimento. eu sou passagem e passamento.
se houve um começo, ninguém pode sabê-lo. há mais metafísica em postular um início que admitir apenas o devir.
eu sou este mundo, sou o impulso, o impulsionado.
para trás e para frente de mim só há o abismo da eternidade, eternidade em transformação.
sim… estou sozinho… não há nada além de mim.
Quem sou?
a máscara de Dionísio...