Som "absoluto" num poço tapado

Quando penso haver em mim mais do que há ou quando penso possuir mais do que vejo, vejo que o que vejo não é o que há, mas o que julgam haver. Mas quando penso já não mais e quando sou já não penso. Por isso tenho em mim a amargura dos meus versos e a caligrafia torta desde a tenra infância. Que sei eu? Ou o que serei? Se faço desses versos eu, o que já nem sei que sou? E os versos que em conexão juntam-se às minhas lágrimas invisíveis e abstratas de um nome distante dizem-me nada. Ah como queria pôr-me em um nome e o signo pôr-se nele mesmo, como que uma autorreferência e uma independência autoproclamada do referente, mas o significante é insignificante e o ritmo sonoro esquisito, como o nome de quem vos escreve. Pedir-me para encontrar o inominável e morri. Sorri para mim mesmo no vazio e o vazio regurgitou a ironia de nada entender e ser mesmo que não se entenda. Ou ser no entendido ou para que se entenda e perca-se. Senti quando já não era tempo. Chorei quando já não havia chance. E me julguei campeão para não me sentir um inútil. Desisto e o audível escrito faz-se e simplesmente insisto; insignificante espúria é o que sou e o nome persiste.

Darach
Enviado por Darach em 03/07/2023
Código do texto: T7828596
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