Anarquia

Loucura pouca é bobagem. Eu quero em grandes goles, pra entorpecer os sentidos, e sentir além da carne. Não! Isso é de outros tempos. Agora é loucura em pequenas doses só pra equilibrar a sanidade frágil, manter o caos sob controle. Caos. Falo, escrevo tanto sobre isso. Parece uma hipérbole, mas é a metáfora perfeita para essa bagunça interna que me habita. A loucura é o que alimenta o caos, mantendo-o em perfeita ordem. A rotina é o tédio necessário para não enlouquecer. Sempre comandada pela égide da ansiedade. Sem ela sinto que vou murchando lentamente em um caminho irreversível de isolamento. É feito lenha atiçando o fogo sagrado. Preciso da ordem para sobreviver ao caos. Parece loucura, mas é apenas uma realidade. Para quem seguiu um fluxo em contramão não há normalidade possível. Há que se inventar caminhos, pontes, riachos a cruzar os horizontes das palavras sãs. Houve um tempo em que eu não queria enxergar nada disso, era doído demais. Precisava de altas doses de loucura. Excessos para anestesiar. Percorri estradas cheias de cacos de vidro que restavam das minhas desconstruções. Destruía muros, feria os pés nos entulhos, e segui em frente até encontrar um oásis lindo. Tantas cores! Tanta água fresca! O exagero então foi de lucidez. Até compreender que eu precisava da loucura em pequenas doses, ajustei o veneno para equilibrar o caos. A perfeição não existe, e adoece. Hoje me aceito assim, um tanto louca, um tanto poeta, meio ansiosa, dona da minha bagunça, senhora do reino do meu Caos!

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 27/06/2023
Código do texto: T7823974
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