VERGEL DE INFORTÚNIOS

 

Ah! Como eu queria te declamar a terna primavera

E te conduzir a lindos oásis, floridos de beleza e encantamentos,

Bem como, a outros lugares aprazíveis de deslumbramentos...

Deveríamos ter singrado o azul do céu-imensidão,

Num belo dia de verão,

Sobre as asas de um beija-flor pueril e romanesco...

Entretanto, apresentei-te deveras um mundo de outono,

Donde frequentemente choravam às rosas despetaladas,

À sombra ilusória de árvores sequiosas, desnudas, desfolhadas,

Transformando você numa folha ressequida, amarelada...

Oh! Deus!! Como uma "folha morta" de Ary Barroso,

Abandonada infeliz numa caudalosa chuva de tristezas,

Mergulhada aos prantos no inverno caliginoso da amargura,

Onde nem o orvalho rejuvenescedor da ventura,

Salvar-te-á da fria escuridão de uma vida de tormentas,

E donde clamam somente às vozes frígidas, inauditas...

Ao longe, o sino da igrejinha plange em desditosas melodias.

E, ao final desse alvoroço sazonal de tempestades,

Desejo-te o verão de uma vida nova, renovada...

Onde a senda de espinhos rumorejantes

Seja transformada numa larga estrada de flores,

Rejeitando os inverossímeis prazeres tentadores e efêmeros,

Evaporando à lágrima ignóbil de um vergel de infortúnios

Que apenas negrejam o olhar na amplidão de uma vida acalorada.

E quando a geada de ilusões vociferar mais uma vez na noite caluda...

Desvencilhe-se incólume!!!!

E continue a ressurgir das trevas a cada novo dia...