Águia

Voei, voei, voei… E voltei para o ninho. Longe de ser um lugar quentinho, aconchegante, é de fato gélido, espinhoso. Cheio de desafios. Tenho tanto ainda a aprender! Não adiantou fugir. Nem jogar a poeira para debaixo do tapete. A vida cobra, puxa o tapetão, espalha as partículas de mágoas e ressentimentos para o alto, diante dos seus olhos. Essa longa estrada do autoconhecimento parece às vezes infinita. São tantas tréguas disfarçadas de cura. A gente comemora, sente a vitória, respira a liberdade e quando menos espera caiu na mesma armadilha. Os fatos vêm todos enfeitados como se fosse uma situação toda diferente, e a gente tropeça, na dor mal digerida, no trauma que ainda rasga por dentro, na crença que já superou. Nas falas que atormentam, e moldaram as nossas partes mais difíceis. Aqueles macaquinhos que moram no sótão da nossa mente, perturbando nosso inconsciente. Foi um longo passeio. Eu precisava atravessar os mares mais tumultuados, as pontes mais longas para, quem sabe, agora de volta a essa realidade tão parecida com tudo aquilo que tanto doía, eu tenha de verdade a oportunidade do aprendizado. De experimentar minha força, minha evolução. Talvez agora, de volta ao ninho na montanha mais alta eu consiga preparar um novo plano de voo. Mais eficiente. Mais bonito. E quiçá, definitivo ao encontro da cura.

*Si*

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 27/06/2023
Código do texto: T7823806
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