Egressão

Mais uma vez o tempo estava parado, eu observava as partículas de poeira brincando em círculo sobre sua cabeça, como se fosse uma auréola. Mais uma vez eu em sua teia, aquilo estava acontecendo como avalanches acontecem. Um minuto tomada de certeza, um segundo depois, coberta de dúvidas.

Você provou da minha fraqueza, quando tudo estava tão difícil, era quase impossível enxergar o caminho. A neblina estava espessa. Mas é tarde demais para dizer que foi um erro. Você já quebrou o meu coração. Estou tomando forças, em conta-gotas, como um soro, que de alguma forma fortificará o pernicioso doente.

Infelizmente, a vida não é uma ampulheta, ao terminar o tempo, vira-se de cabeça e começa-se tudo de novo. Hoje estamos a oceanos de distância, mas me deixou caída em sua gravidade e, se eu não sou a pessoa certa para você, precisa então, parar de me segurar da maneira como tem feito.

Há momentos em que a atitude mais sedutora é aquela que não prima pela docilidade. Então, vamos tratar de ser franco. Eu sempre mendiguei por sua relapsa atenção, até deixei minha pele por você. Mas não vamos deixar a conversa girar conspícua. Trata-se de uma falsa união, como seria aquela de um feixe de galhos amarrados juntos, que nunca formam um galho só. Somos dois esgrimistas, os quais não raramente fazem uma má esgrima, mas talvez, ofereçam aos apreciadores um espetáculo excelente. É um bater palma para maluco dançar.

Mas, mais nada importa, o leite já está derramado. A sede não pode ser acalmada com água do mar. Vamos agir com reciprocidade, quando eu virar as costas você também o faz. E assim, nos despedimos. Para sempre.

Lemos ACR
Enviado por Lemos ACR em 25/06/2023
Código do texto: T7821984
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