DOCES LEMBRANÇAS (prosa poética)
Uma mulher que chegou com o dom de mudar a minha vida e nada disposta a fazer dela a sua morada. Chegou de mansinho como não querendo ficar. Veio apenas cumprir uma missão, combinada lá nas andanças pelo Universo.
Teceu o ninho logo à entrada do meu coração mostrando-se por partir quando bem quisesse. Insisti que entrasse mais fundo, arrumasse um cômodo maior, que se acomodasse para ficar mais tempo ou para sempre, talvez. Não me atendeu:
— Não! Darei toda a atenção do mundo enquanto durar a minha passagem pela sua vida. Prometo, como mulher e amante, que vou revirar-lhe no avesso, sacudindo a sua existência. Deixarei, em você, a minha marca. No entanto, partirei no melhor momento que atravessarmos, evitando que fiquem vagas lembranças.
Dizia assim que a Lua prateada invadia o meu quarto, no exato momento em que chegava, também.
Sorria e abraçava-me...
Provocava-me com seus contos de palavras lapidadas pela sinceridade e desejo, prenunciando o que desejaria naquela noite. Entregava-se por inteira. Fazia-me senhor do seu império, conduzindo-me por caminhos de conquistas para cada noite especial.
Depois, aconchegava-se em meus braços como as pérolas que se aconchegam na natureza aguardando o momento de ser levada a brilhar pelos raios do Sol.
E, quando a Lua mal partia, ela estava pronta à despedida. Nem bem os raios do Sol adentravam pela janela, assumindo a sina de brilhar, retornava ao seu mundo e ao seu destino.
Antes, porém, deixava nos meus lábios um código secreto ao novo encontro. Reencontro? Ah! como eu o aguardava, pois tinha medo de perdê-la.
Aconteceu: Como foi para Jó, o que mais temia aconteceu, pois chegou o dia conforme prometido e ela partiu com o Sol nascente, e não retornou mais com a Lua prateada. Percebi, com lágrimas nos olhos, como despedida a falta do código secreto que não veio com os seus lábios.
Deixou-me...
Porém, conforme prometeu deixou doces lembranças.
Nem vagas ou doloridas.
Somente as doces lembranças.