Senhorita Esfinge
Em meio a um estupor mental, completamente mórbida, habitando uma espécie de êxtase em que se abismava por séculos, sua voz soava como que tivesse uns 4 mil anos, além de parecer uma linguagem secreta, um código Morse. É tão difícil falar quando tudo já parece uma parábola, quando tudo foi dito um milhão de vezes. Continuaremos rastejando de pires na mão pelos corredores do inferno.
Limpei a porcaria da visão em blur, e todo plano torna-se um castelo de cartas, mudando uma variável tudo vem abaixo. Enquanto, como uma imperiosa esfinge abocanha a graça apenas para si. Parece um lobo. Um lobo solitário e dos mais cruéis. O mais sangrento, desejando seus dentes cravados na pele, rasgando a garganta.
Abrindo as feridas, o chão afundando, no fim do caminho há uma porta, ao empurrá-la, ela irá ranger, e, ao abrir por completo, só haverá escuridão. Nas paredes há versos que escrevi com o coração, e o fígado também. Mas não adianta ceder os anéis para não perder os dedos, a demolidora capacidade de produzir julgamentos é capaz de dissuadir o mais despótico espírito, e ela te convence que o fim é divertido. Seu poder de mexer nas velhas feridas, as fazendo sangrar, é algo esplendido. Digno de uma salva de palmas, em pé.
Senhorita Esfinge, rainha do mistério, a escuridão conforta-se no vazio... Sua belicosa expressão, enquanto ouve juras de amor imorredouro, para ela é um dedo na garganta. No entanto, diante a tudo isso, o seu devastador domínio se faz impossível passar sem se encantar por sua presença, um tanto etérea, angelical, sanguínea. Poderia ficar a admirando por mais uma vida, aposto que neste momento há um sorriso congelado colado no rosto. Enquanto, nasce outro ser encantado por seu poder. Senhorita Esfinge, rainha do mistério, compartilhe a graça, também quero rir. Ou me dê a chave do caixão para que, então, eu consiga partir.